Há mais de um ano, temos presenciado diversos levantes populares em países do norte da África e Península Arábica, muitos dos quais contribuíram para o fim de regimes ditatoriais que perduravam há décadas.
Contudo, do embate entre os manifestantes que se insurgiram contra seus governos e as forças militares responsáveis pela guarda do poder político vigente, milhares de pessoas foram mortas ou gravemente feridas.
Na quinta-feira, 02 de fevereiro de 2012, o confronto entre torcidas de times de futebol rivais no Egito resultou em mais um triste episódio da história da Primavera Árabe, movimento político contestatório, desencadeado pelo suicídio do tunisiano Mohamed Bouazizi, que gerou uma série de protestos e confrontos políticos, instaurando um cenário de instabilidade política em países como Egito, Tunísia, Síria, Iêmen, Costa do Marfim, entre outros.
Legenda: Manifestações na Tunísia, que resultaram na queda do presidente Zine al-Abdine Ben Ali. por cjb22. CC BY 2.0.
As torcidas dos times Al Ahly e Al Masry se digladiaram no estádio que sediava a partida, após a vitória do Al Ahly. Quando os torcedores desse time invadiram o campo para celebrar, seus rivais iniciaram um confronto que resultou na morte de 74 pessoas, além de deixar 400 feridos.
Mas o que o conflito entre essas torcidas tem a ver com o cenário político egípcio? Tudo!
No Egito, as torcidas de times de futebol foram extremamente atuantes nas manifestações e confrontos que resultaram na queda do ditador Hosni Mubarak. Assim, especula-se que o embate no estádio tenha ocorrido entre grupos políticos ultrarradicais pertencentes a essas torcidas, cuja rivalidade vai além do esporte, estendendo-se à política.
Legenda: Os chamados “Al Ahly Ultras”, torcedores ultrarradicais do time Al Ahly, ocupam a Praça Tahrir em 03 de julho de 2011, durante a onda de manifestos pró-democracia que derrubaram o governo de Hosni Mubarak. Por Lilian Wagdy. CC BY 2.0.
Também se atribui parte da culpa à deliberada displicência das autoridades policiais presentes no estádio, os quais teriam permitido a entrada de pessoas armadas na partida, tudo isso no intuito de incitar o conflito entre as torcidas e desestabilizar as forças opositoras ao regime militar estabelecido desde a queda de Mubarak.
Analisando a conjuntura política instaurada nessa região sob a ótica da filosofia, é possível compreender como e por que a rede de eventos que se seguiu ao suicídio de Mohamed Bouazizi culminou em tal cenário de instabilidade e insegurança, no qual uma mera partida de futebol ganhou um caráter político e resultou em uma tragédia.
FONTE: http://blog.educacional.com.br/blog_filosofia/2012/02/28/primavera-arabe-e-filosofia-politica/